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O Hypercluster da Economia do Mar – A Importância do Mar

Canal do PanamáO Hypercluster da Economia do Mar é reconhecido como um domínio de potencial estratégico para o desenvolvimento da economia portuguesa, tal como aliás indica o mais completo estudo sobre a Economia do Mar realizado em Portugal, publicado em 2009 pela SAER-Sociedade de Avaliação Estratégica de Risco.

 

Ernâni Rodrigues Lopes, o seu coordenador, escreve na edição do livro:

 

A razão de ser é o estudo aprofundado da dimensão económica do mar, um dos factores vitais da identidade portuguesa e que é, simultaneamente, um dos factores estratégicos fundamentais e, porventura, dos poucos verdadeiramente decisivos da geopolítica e da geoeconomia do séc. XXI.  Neste sentido, a abordagem prospectiva e policy oriented do trabalho, se for correctamente passada à prática, permitirá a Portugal afirmar-se e ganhar um papel activo no quadro global da economia dos oceanos.

 

A evolução das funções estratégicas e económicas dos oceanos na segunda metade do século XX A segunda metade do séc. XX assistiu a uma profunda transformação das funções económicas dos oceanos e a uma alteração da geografia mundial das actividades a ele ligadas.

 

A Energia

Os oceanos ganharam uma função nova e muito importante como fontes de energia, com o desenvolvimento da exploração de petróleo offshore, nomeadamente a partir da crise petrolífera de 1973, não tendo os recursos de petróleo e gás natural offshore parado de ascender em importância.

 

Transportes marítimosO Transporte

Os oceanos perderam o essencial das funções de transporte de passageiros que se transferiu para a aviação, tendo ficado confinado ao segmento muito dinâmico dos cruzeiros, a partir dos anos 70. Mantiveram, no entanto, um papel chave no transporte de mercadorias, tendo-se assistido a uma dupla revolução tecnológica e organizativa com a generalização do transporte por contentor de carga manufacturada e do transporte marítimo de gás natural liquefeito.

 

Novos recursos

Pela primeira vez, os oceanos deverão ser encarados como uma fonte imprescindível de minerais, nomeadamente aqueles que hoje se concentram na África Central e do Sul, já que, devido à dificuldade de estabilizar em tempo útil essas regiões, se torna necessário aceder a outras fontes de minerais de importância militar e civil (por exemplo para a futura difusão de motorizações híbridas e eléctricas exigindo baterias e cobalto) constituindo os nódulos metálicos existentes no fundo dos mares uma alternativa, hoje ainda impensável devido aos custos das tecnologias, mas inevitável dentro de trinta anos.

 

A Evolução Biológica e os Novos Alimentos

A descoberta recente de formas de vida em condições extremas a grandes profundidades, vai fornecer, por outro lado, uma base completamente nova de exploração biotecnológica com impactos previsíveis em diversas áreas, desde a da saúde à criação artificial de seres vivos que permitam combater a acumulação de gases com efeito de estufa; e numa escala mais reduzida a exploração intensiva das microalgas irá constituir provavelmente a mais segura base de produção de biocombustíveis sem efeitos perversos sobre a oferta alimentar. Devido às alterações que estão a acontecer na produção agrícola de algumas regiões mundiais densamente povoadas, será essencial os oceanos realizem a sua “Revolução Verde” por forma a disponibilizarem alimentos necessários às populações do planeta – alguns tradicionais, outros completamente inovadores.

 

A Alimentação e o Turismo

O TurismoOs oceanos viram ainda reduzir-se a sua importância no fornecimento alimentar do planeta perante a revolução tecnológica da agricultura – a “Revolução Verde” – que tornou possível um aumento de população mundial na escala da que se verificou desde o pós 2ª guerra; e tornaram-se, ou antes, fizeram das regiões litorais, o centro da maior indústria mundial – o turismo – já que os segmentos do turismo ligados ao sol e ao mar cresceram exponencialmente desde que aviação civil se tornou acessível, em termos de preços e rotas, a uma grande parte das populações dos países desenvolvidos.

 

As Alterações Climáticas

Por outro lado, e ainda devido aos prováveis impactos das alterações climáticas, os oceanos deverão transformar-se numa fonte de riscos de intensidade desconhecida no passado em muitas regiões do mundo, determinando um enorme esforço de investimento em obras de protecção costeira, nomeadamente nas regiões desenvolvidas do planeta, onde se concentram as mais ricas e sofisticadas actividades desenvolvidas pela humanidade.

 

A Globalização Económica

Os oceanos deverão manter e mesmo aumentar, com os efeitos da globalização económica, a sua função chave de meio de transporte de mercadorias, centrado na relações entre três “placas geoeconómicas” – a Asiática, a Norte-Americana e a Europeia – sendo que, com o alargamento do Canal do Panamá, por um lado, e pela necessidade de reduzir drasticamente os percursos de navegação em vazio por parte dos porta-contentores gigantes (percursos em vazio resultantes do desequilíbrio estrutural nas trocas de produtos industriais entre a placa asiática e as outras duas) se vai inevitavelmente assistir a uma mudança na configuração das rotas intercontinentais.